08 de junho 2016 | 17h| Auditório da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva
Do Ciclo Estudos Luso-Alemães:
Orlando Grossegesse (DEGE / UM),
Histórias quase esquecidas – memória & pós-memória de refugiados em Portugal:
Ilse Losa / Daniel Blaufuks
«O refugiado, o perseguido, vítima de furores desumanos pode alguma vez reaver a pátria que o repeliu brutalmente ou criar uma nova?» – Esta interrogação que lemos na contracapa da primeira edição do romance Sob céus estranhos (1962), de Ilse Losa, é a de milhares de pessoas neste momento. A voz de Ilse Losa, apropriando-se da língua portuguesa através da sua escrita literária migratória, aproximou os portugueses das atribulações do refugiado, levando-os a uma interrogação sobre o papel de Portugal, país de acolhimento na periferia duma Europa em chamas. Não basta a ‘terna bondade’ portuguesa para o refugiado se enraizar na terra que adotou (por quanto tempo?): as experiências e as questões que se levantam são mais complexas, mas ficam rapidamente esquecidas e soterradas debaixo da bondade e da hospitalidade – autoimagens poderosas, resgatadas pela comunicação social perante a atual ‘crise dos refugiados’. O que em Ilse Losa é tentativa de transmitir memória, às vezes incómoda, assume-se em Sob céus estranhos (2007) de Daniel Blaufuks como pós-memória – não do Holocausto, mas das suas sombras que determinaram a vida de tantas e tantas famílias. O vídeo e as fotografias de Blaufuks, neto de refugiados que viveu a sua infância imerso num mundo de alusões, fotografias, objetos, comidas, …, colocam-nos questões que perturbam, levando a uma reflexão crítica sobre a idealização de Portugal / Lisboa como ‘porto da esperança’.